Desta vez a jornada que nosso blog traça pelos inumeros caminhos da estrada do rock vai dar seus passos na direção do blues , o começo de tudo e ponto final.
Não poderiamos convidar pessoas mais certas para descrever a sensação de estar em um evento de grande porte no estilo do que os blues brothers Michel Krause e Douglas Caberlon, legitimos detentores da sabedoria dos ancestrais do rock'n'roll.
A narrativa é livre e emocionada, expontanea exatamente como tem de ser , expressar o momento em cada detalhe, em cada arrepio, em cada sentido magico que o blues provoca em todo aquele que é digno de sua benção, com voces a fantastica aventura destes dois figuraças em um fim de semana ,que ,como voces irão ver foi mais do que inesquecivel.
Sexta-feira.
(O impacto)
Foi no mês de Novembro de 2009, nos dias 19, 20 e 21, que rolou a segunda edição do Moinho da Estação Blues Festival, na cidade de Caxias do Sul na Serra Gaúcha. Cidade mais que hospitaleira e tão acolhedora, não poderia ser diferente que uma iniciativa dessas tivesse início justamente lá, com toda a infraestrutura necessária para acolher um público tão especial vindas de diferentes partes do estado e de fora dele também.
Saí de minha cidade (Taquara), na sexta-feira pela manhã, encarando 3 horas de viagem de ônibus serra acima, mas a exuberância da paisagem; aliado ao ar fresco da serra; é algo que realmente não me fez sentir o peso das horas, botei os headphones e deixei que minha alma flutuasse ao som de John Lee Hooker, som que julguei mais propício no momento, em que teria de controlar a ansiedade e a paciência da inércia dentro do bus, enquanto viajava olhando pela janela lembrando do que foi o ano passado, pois cheguei lá esperando algumas dezenas de pessoas, mas qual foi minha surpresa ao encontrar centenas.
Além da cidade, como já mencionei, outro fator importante foi a escolha do lugar. Uma antiga estação de trem (lugar peculiar e tão citado em inúmeras canções de blues), que já servia de pano de fundo para bares como o Mississipi Delta Blues Bar, com toda a sua atmosfera típica de um Autêntico Blues Bar Americano, fazendo nosso cérebro confundir-se momentaneamente e nos botar em dúvida sobre que país realmente estamos. Nesse lugar, atente para os detalhes, pois é lá que está a beleza do bar! O dono do bar é um cara chamado Toyo Bagoso, que pra quem não conhece é o organizador do evento, que por sinal já havia mostrado grande competência e empreendorismo quando realizou um evento desse porte e importância ano passado, na primeira edição, que pra mim foi sucesso absoluto e inesquecível, além claro, de excelente músico, pois é harmonicista das bandas Juke Joint e Goodfellas.
Bom, cheguei ao evento por volta das 20:00hs, a tempo de ouvir o timbre das gaitas amplificadas de Joe Marhofer da The Headcutters, banda de Itajaí-SC que está despontando pelo país com sua excelente proposta de tocar um blues mais anos 40 e 50, inclusive, e esse inclusive é importante, com a sonoridade daquela época, além claro, da competência e criatividade dos músicos que compõe a banda, junto com seu convidado da noite, Melk Rocha, gaitista de técnica incrível, proprietário da Bends Harmônicas, sem contar o conhecimento, carisma, e simplicidade que pude constatar depois. Ao entrar, já encontrei nos trilhos de trem (que ainda existem) em frente ao Mississipi (quer coisa mais blues que isso? rsrsrs...) meu grande amigo Douglas Caberlon, baixista dos bons mesmo, da banda Little Boogie de Porto Alegre, que por sinal me acompanhou e auxiliou na tarefa de entrar em contato com as lendas, trocar uma idéia e presenteá-las com uma camiseta da Marka Diabo (valeu meu velho!). Acompanhamos o restante do show com grande entusiasmo, depois claro de abastecermos nossos copos com um Chopp Coruja, aliás, parabéns mais uma vez, a idéia de presentear cada pagante com um copo personalizado do evento (4 cores diferentes) para não ficar aquela sujeira de copos plásticos descartáveis no fim da festa.
Em seguida, assistimos ao show da Beale Street do RJ, com a participação de Pedro Strasser, exímio baterista do Blues Etílicos, banda que dispensa apresentações. O show foi magnífico, com Pedro “quebrando tudo”, levando juntamente com “guitas” da Beale a galera ao delírio.
Em seguida foi a vez de Fernando Noronha e Black Soul subir ao palco, (que aliás, o fundo do palco principal parecia a frente de uma velha casa do sul dos EUA... muito legal) o show estava ótimo, sua grande performance aliada aos grande músicos e sua competente guitarra, deram a noite um sabor de alegria ao Blues, descontraído. Logo após esse grande show, prestei mais atenção ao Festival em sí, visitando os outros 3 palcos que começariam os shows simultâneos, no intervalo do Palco Principal. Era só escolher, ou no meu caso, ficar um pouco em cada um e saborear a qualidade das atrações. A multidão era grande, não somente se comprando por ser um evento de Blues, mas realmente estava lotado, com pessoas curtindo os shows no Mississipi, no palco Tennessee, ou no palco Chicago, dentro da própria estação, ou ainda visitando os stands, ou quem sabe aproveitando o intervalo para matar a fome na praça de alimentação no final da rua. Optamos por ficar curtindo no Palco Chicago, onde a Azambujas Blues Band já dava o tom e passava o som para logo depois do Show de Billy Branch fazer tremer as paredes da antiga estação, (fato esse que se comprovou mais tarde).
Resolvemos visitar o stand da Bends harmônicas, que já havia visitado ano passado, mas desta vez, quem me serviu de anfitrião foi o próprio dono da história, Melk Rocha, que nos recebeu como estivéssemos em casa. Enquanto nos mostrava as diferenças de timbre e tom das gaitas, dava uma “canjinha” que deixava a todos a volta arrepiados, inclusive a mim, tanto que não demorou para encher de gente na frente do stand para ouvir, não acreditava que estava ouvindo fraseados tão perfeitos ali, ao vivo, o cara tocando parecia tão fácil (cara, isso nos irritou profundamente, rsrsrs)! Logo na sequencia chegou o Joe Marhofer, dizendo que veio pelo ouvido! Quando a zoeira ia começar, apareceu um baixo acústico gigantão com cara baixinho com sotaque portunhol fazendo base para os solo harmônicos e aí que a coisa esculhambou mesmo, pois o cara tocava bem pra caramba. Logo depois com os ânimos mais calmos, conversei com O Melk sobre a Marka Diabo, as estampas, o conceito, a atitude, etc... mostrei uma do Charlie Musselwhite que estava usando ele curtiu pra caramba! Marcamos que na noite seguinte eu as levaria até o evento. Nos despedimos porque o já ouvíamos alguém chamando todos até o palco principal que o grande show de Billy Branch iria começar.
Optamos por ficar na frente, porém na lateral do palco, de pé, pois em frente ao palco eram todas cadeiras (não sei como olhar um show desses sentado!), não acreditava que estava ali a poucos metros assistindo a ninguém menos que uma lenda da harmônica, cresci ouvindo tantos cds dele na minha adolescência e para mim até aquele momento era quase certo que jamais viria a vê-lo ao vivo (se eu soubesse o que me esperaria), mas estava ali, e tocando como nunca!
O show foi um absurdo de tão bom, com o Billy arrancando aplausos e assovios de furar os tímpanos de qualquer ser mortal naquele lugar a cada solo de harmônica, mostrando que está melhor até do que antes (se isso for possível)! Billy Branch com seu sempre inconfundível chapéu estilo panamenho, encantou a todos com frases fazendo referência ao Festival, ao convite e ao Brasil, sendo bastante carismático, porém ao mesmo tempo com uma seriedade ímpar no palco, mostrando que o Blues merece todo o respeito e deve ser sempre levado muito a sério. Porém, o que conquistou o público mesmo foi a canção que escolhera como despedida. “Got my Mojo working” que levou o festival inteiro cantar junto numa só voz! Incrível e inesquecível!
Recém terminado o show, fomos direto ao palco Chicago, onde agora sim a Azambujas Blues Band, com a ilustre presença de Fabiano Mittidieri, quase incendiou o antiga estação de Trem de Caxias do Sul, o talento dessa banda já é reconhecido em todo o estado e principalmente pelo interior, tanto pela força da contagiante e enérgica gaita de Mario Azambujas, seja pela voz encorpada de Alice, ou ainda pela experiência de Arno Azambujas, mas com certeza também é devido ao talento e a empolgação de Feijão, típico batera doido que ao olharmos o cara em ação temos a nítida sensação de que esse diverte mais do que trabalha, ou melhor, esse trabalha se divertido, mas antes do tudo , um virtuose do instrumento, o show foi demais!
Terminamos a noite no Mississipi Blues Bar, acompanhando o Show do excelente gaitista Ale Ravanello; músico carismático, humilde, gente muito boa, e ainda dono de uma técnica segura e ímpar que impressiona a todos sempre, com certeza, um grande expoente e representante da Harmônica gaúcha, assim como tantos que temos por aqui; e seus convidados. Mostrando ser um bom anfitrião, dividiu o palco com inúmeras feras do Festival, repetindo a fórmula do ano passado, em que naquele mesmo palco aconteceram encontros históricos do Blues desse país (Magic Slim, Jefferson Gonçalves, Robson Fernandes, Andy Boy, etc), e nesse ano com ninguém menos do que Billy Branch, onde de sua mesa saboreando uma Heineken, contemplava o ritmo e o tempero Gaúcho-brasileiro, até que, depois de convidado, nos presentear com uma canja incrível! Eu só conseguia pensar numa frase enquanto estava ali, a meio metro de distância do “homem” sentado na mesa ao lado da dele e digerindo aquela enxurrada de talento ouvido a dentro:
• Cara, e eu tô aqui presenciando isso, não acredito!!! Foi aí que percebi que só mesmo no Moinho da Estação as lendas caminham entre os mortais.
Vale lembrar que pouco antes desse momento surreal, meu amigo Douglas havia sido também convidado a subir ao palco e contribuir para eternizar o momento, subindo até mesmo em cima de uma das mesas do bar, visto que o palco era pequeno e a euforia de todos grande demais, nessa hora vale tudo, com a platéia ensandecida vibrando de emoção a cada música, o único problema foi que meu valente e intrépido amigo baixista, depois de encerrada a participação, negou-se a descer da mesa em que estava (na verdade morrendo medo de errar o pé despencar lá de cima com baixo e tudo devido ao seu teor alcólico alterado).
06:00 hs da manhã, chuvarada. “Fui embora dormi!, Câmbio desligo!”