terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A JORNADA DE DOIS ANDARILHOS NA ENCRUZILHADA DO BLUES - MOINHO DA ESTAÇÃO BLUES FESTIVAL 2009





Desta vez a jornada que nosso blog traça pelos inumeros caminhos da estrada do rock vai dar seus passos na direção do blues , o começo de tudo e ponto final.
Não poderiamos convidar pessoas mais certas para descrever a sensação de estar em um evento de grande porte no estilo do que os blues brothers Michel Krause e Douglas Caberlon, legitimos detentores da sabedoria dos ancestrais do rock'n'roll.
A narrativa é livre e emocionada, expontanea exatamente como tem de ser , expressar o momento em cada detalhe, em cada arrepio, em cada sentido magico que o blues provoca em todo aquele que é digno de sua benção, com voces a fantastica aventura destes dois figuraças em um fim de semana ,que ,como voces irão ver foi mais do que inesquecivel.

Sexta-feira.
(O impacto)

Foi no mês de Novembro de 2009, nos dias 19, 20 e 21, que rolou a segunda edição do Moinho da Estação Blues Festival, na cidade de Caxias do Sul na Serra Gaúcha. Cidade mais que hospitaleira e tão acolhedora, não poderia ser diferente que uma iniciativa dessas tivesse início justamente lá, com toda a infraestrutura necessária para acolher um público tão especial vindas de diferentes partes do estado e de fora dele também.
Saí de minha cidade (Taquara), na sexta-feira pela manhã, encarando 3 horas de viagem de ônibus serra acima, mas a exuberância da paisagem; aliado ao ar fresco da serra; é algo que realmente não me fez sentir o peso das horas, botei os headphones e deixei que minha alma flutuasse ao som de John Lee Hooker, som que julguei mais propício no momento, em que teria de controlar a ansiedade e a paciência da inércia dentro do bus, enquanto viajava olhando pela janela lembrando do que foi o ano passado, pois cheguei lá esperando algumas dezenas de pessoas, mas qual foi minha surpresa ao encontrar centenas.
Além da cidade, como já mencionei, outro fator importante foi a escolha do lugar. Uma antiga estação de trem (lugar peculiar e tão citado em inúmeras canções de blues), que já servia de pano de fundo para bares como o Mississipi Delta Blues Bar, com toda a sua atmosfera típica de um Autêntico Blues Bar Americano, fazendo nosso cérebro confundir-se momentaneamente e nos botar em dúvida sobre que país realmente estamos. Nesse lugar, atente para os detalhes, pois é lá que está a beleza do bar! O dono do bar é um cara chamado Toyo Bagoso, que pra quem não conhece é o organizador do evento, que por sinal já havia mostrado grande competência e empreendorismo quando realizou um evento desse porte e importância ano passado, na primeira edição, que pra mim foi sucesso absoluto e inesquecível, além claro, de excelente músico, pois é harmonicista das bandas Juke Joint e Goodfellas.
Bom, cheguei ao evento por volta das 20:00hs, a tempo de ouvir o timbre das gaitas amplificadas de Joe Marhofer da The Headcutters, banda de Itajaí-SC que está despontando pelo país com sua excelente proposta de tocar um blues mais anos 40 e 50, inclusive, e esse inclusive é importante, com a sonoridade daquela época, além claro, da competência e criatividade dos músicos que compõe a banda, junto com seu convidado da noite, Melk Rocha, gaitista de técnica incrível, proprietário da Bends Harmônicas, sem contar o conhecimento, carisma, e simplicidade que pude constatar depois. Ao entrar, já encontrei nos trilhos de trem (que ainda existem) em frente ao Mississipi (quer coisa mais blues que isso? rsrsrs...) meu grande amigo Douglas Caberlon, baixista dos bons mesmo, da banda Little Boogie de Porto Alegre, que por sinal me acompanhou e auxiliou na tarefa de entrar em contato com as lendas, trocar uma idéia e presenteá-las com uma camiseta da Marka Diabo (valeu meu velho!). Acompanhamos o restante do show com grande entusiasmo, depois claro de abastecermos nossos copos com um Chopp Coruja, aliás, parabéns mais uma vez, a idéia de presentear cada pagante com um copo personalizado do evento (4 cores diferentes) para não ficar aquela sujeira de copos plásticos descartáveis no fim da festa.
Em seguida, assistimos ao show da Beale Street do RJ, com a participação de Pedro Strasser, exímio baterista do Blues Etílicos, banda que dispensa apresentações. O show foi magnífico, com Pedro “quebrando tudo”, levando juntamente com “guitas” da Beale a galera ao delírio.
Em seguida foi a vez de Fernando Noronha e Black Soul subir ao palco, (que aliás, o fundo do palco principal parecia a frente de uma velha casa do sul dos EUA... muito legal) o show estava ótimo, sua grande performance aliada aos grande músicos e sua competente guitarra, deram a noite um sabor de alegria ao Blues, descontraído. Logo após esse grande show, prestei mais atenção ao Festival em sí, visitando os outros 3 palcos que começariam os shows simultâneos, no intervalo do Palco Principal. Era só escolher, ou no meu caso, ficar um pouco em cada um e saborear a qualidade das atrações. A multidão era grande, não somente se comprando por ser um evento de Blues, mas realmente estava lotado, com pessoas curtindo os shows no Mississipi, no palco Tennessee, ou no palco Chicago, dentro da própria estação, ou ainda visitando os stands, ou quem sabe aproveitando o intervalo para matar a fome na praça de alimentação no final da rua. Optamos por ficar curtindo no Palco Chicago, onde a Azambujas Blues Band já dava o tom e passava o som para logo depois do Show de Billy Branch fazer tremer as paredes da antiga estação, (fato esse que se comprovou mais tarde).
Resolvemos visitar o stand da Bends harmônicas, que já havia visitado ano passado, mas desta vez, quem me serviu de anfitrião foi o próprio dono da história, Melk Rocha, que nos recebeu como estivéssemos em casa. Enquanto nos mostrava as diferenças de timbre e tom das gaitas, dava uma “canjinha” que deixava a todos a volta arrepiados, inclusive a mim, tanto que não demorou para encher de gente na frente do stand para ouvir, não acreditava que estava ouvindo fraseados tão perfeitos ali, ao vivo, o cara tocando parecia tão fácil (cara, isso nos irritou profundamente, rsrsrs)! Logo na sequencia chegou o Joe Marhofer, dizendo que veio pelo ouvido! Quando a zoeira ia começar, apareceu um baixo acústico gigantão com cara baixinho com sotaque portunhol fazendo base para os solo harmônicos e aí que a coisa esculhambou mesmo, pois o cara tocava bem pra caramba. Logo depois com os ânimos mais calmos, conversei com O Melk sobre a Marka Diabo, as estampas, o conceito, a atitude, etc... mostrei uma do Charlie Musselwhite que estava usando ele curtiu pra caramba! Marcamos que na noite seguinte eu as levaria até o evento. Nos despedimos porque o já ouvíamos alguém chamando todos até o palco principal que o grande show de Billy Branch iria começar.
Optamos por ficar na frente, porém na lateral do palco, de pé, pois em frente ao palco eram todas cadeiras (não sei como olhar um show desses sentado!), não acreditava que estava ali a poucos metros assistindo a ninguém menos que uma lenda da harmônica, cresci ouvindo tantos cds dele na minha adolescência e para mim até aquele momento era quase certo que jamais viria a vê-lo ao vivo (se eu soubesse o que me esperaria), mas estava ali, e tocando como nunca!
O show foi um absurdo de tão bom, com o Billy arrancando aplausos e assovios de furar os tímpanos de qualquer ser mortal naquele lugar a cada solo de harmônica, mostrando que está melhor até do que antes (se isso for possível)! Billy Branch com seu sempre inconfundível chapéu estilo panamenho, encantou a todos com frases fazendo referência ao Festival, ao convite e ao Brasil, sendo bastante carismático, porém ao mesmo tempo com uma seriedade ímpar no palco, mostrando que o Blues merece todo o respeito e deve ser sempre levado muito a sério. Porém, o que conquistou o público mesmo foi a canção que escolhera como despedida. “Got my Mojo working” que levou o festival inteiro cantar junto numa só voz! Incrível e inesquecível!
Recém terminado o show, fomos direto ao palco Chicago, onde agora sim a Azambujas Blues Band, com a ilustre presença de Fabiano Mittidieri, quase incendiou o antiga estação de Trem de Caxias do Sul, o talento dessa banda já é reconhecido em todo o estado e principalmente pelo interior, tanto pela força da contagiante e enérgica gaita de Mario Azambujas, seja pela voz encorpada de Alice, ou ainda pela experiência de Arno Azambujas, mas com certeza também é devido ao talento e a empolgação de Feijão, típico batera doido que ao olharmos o cara em ação temos a nítida sensação de que esse diverte mais do que trabalha, ou melhor, esse trabalha se divertido, mas antes do tudo , um virtuose do instrumento, o show foi demais!
Terminamos a noite no Mississipi Blues Bar, acompanhando o Show do excelente gaitista Ale Ravanello; músico carismático, humilde, gente muito boa, e ainda dono de uma técnica segura e ímpar que impressiona a todos sempre, com certeza, um grande expoente e representante da Harmônica gaúcha, assim como tantos que temos por aqui; e seus convidados. Mostrando ser um bom anfitrião, dividiu o palco com inúmeras feras do Festival, repetindo a fórmula do ano passado, em que naquele mesmo palco aconteceram encontros históricos do Blues desse país (Magic Slim, Jefferson Gonçalves, Robson Fernandes, Andy Boy, etc), e nesse ano com ninguém menos do que Billy Branch, onde de sua mesa saboreando uma Heineken, contemplava o ritmo e o tempero Gaúcho-brasileiro, até que, depois de convidado, nos presentear com uma canja incrível! Eu só conseguia pensar numa frase enquanto estava ali, a meio metro de distância do “homem” sentado na mesa ao lado da dele e digerindo aquela enxurrada de talento ouvido a dentro:
• Cara, e eu tô aqui presenciando isso, não acredito!!! Foi aí que percebi que só mesmo no Moinho da Estação as lendas caminham entre os mortais.
Vale lembrar que pouco antes desse momento surreal, meu amigo Douglas havia sido também convidado a subir ao palco e contribuir para eternizar o momento, subindo até mesmo em cima de uma das mesas do bar, visto que o palco era pequeno e a euforia de todos grande demais, nessa hora vale tudo, com a platéia ensandecida vibrando de emoção a cada música, o único problema foi que meu valente e intrépido amigo baixista, depois de encerrada a participação, negou-se a descer da mesa em que estava (na verdade morrendo medo de errar o pé despencar lá de cima com baixo e tudo devido ao seu teor alcólico alterado).
06:00 hs da manhã, chuvarada. “Fui embora dormi!, Câmbio desligo!”

PARTE DOIS - SABADO -CONTATOS IMEDIATOS











Sábado.
(Contatos imediatos)

O sábado passou meio estranho, eu dormindo e acordando de ressaca no quarto do hotel. Pudera!
Acordei, comi alguma coisa na rua, forrei o estômago enquanto lembrava da noite perfeita no delta de Caxias do Sul, um sorriso de satisfação brotou na rosto, tava demais!!!
Depois de uma banho pra recuperar as energias, peguei um táxi para o Festival e encontrei meu grande amigo Douglas, seu irmão Denis e um casal de amigos já na fila guardando lugar pra mim, visto que a fila era quilométrica! O show de Andy & the Rockets já estava rolando. O Show de Andy Boy foi demais, o cara é referência (e muitas vezes professor) para muitos dos gaitistas que hoje despontam na cena gaúcha. A banda faz interpretações de rock e baladas dos anos 50, com um pouco de surf-music intrumental dos anos 60, sua banda mostra muito entrosamento num clima de amizade de velhos amigos, um excelente show pra se deixar viajar através das décadas, principalmente com uma boa cerveja Heineken beeem gelada a tira colo ou um chopp cremoso da Coruja, aí tudo fica com outro gosto.
O show de Décio Caetano & Nicolás Smoljan estava ótimo. Décio já é figura carimbada na América Latina, formando parcerias com grandes nomes do Blues nacional e internacional, dono de um estilo muito próprio, esse paranaense cria composições no palco simplesmente incríveis, sem falar na destreza com que usa o slide, transmitindo toda a emoção que esse gênero nos transmite a alma. Nicolás é simplesmente demais, gaitista de renome internacional, esse Argentino que foi inclusive aluno de Howard Levy dá aulas particulares de harmônica também na Escuela de Blues del Collegium Musicum de Buenos Aires, primeira Escola de Blues do país. Sua técnica é realmente impressionante, e muito criativo com o instrumento. Sem dúvida alguma um show para se rever algum dia, não somente eu, mas a julgar pelo barulho da platéia... creio que essa é a opinião de todos que estavam lá.
E chegou um dos momentos que esperava muito. Ver ao vivo o show do Blues Etílicos! Creio que foi a primeira banda nacional de Blues que escutei na vida. Ainda bem moleque “ranhentinho” descobrindo novos sons, me deparei com uma fita cassete do Blues Etílicos de um amigo meu, já conhecia o gênero, claro, mas ao ouvir a gaita de Flávio Guimarães, cara, parece que ela falava uma língua que eu não compreendia, mas entendia tudo ao mesmo tempo, eu entendia o sentimento dela! Descobri isso muito tempo depois! O único comentário que meu amigo fez foi: - Cara, essa é a banda que trouxe o Blues pro Brasil.
Apartir daí então virei fã, não somente pelo excelência musical de todos os componentes, mas pela trajetória e batalhas que que devem ter encarado a fim de não desistir de destilar e levar o Blues adiante nesse país.
O show estava pra começar. Eu claro, no lugar estratégico de sempre, na lateral, bem na frente, esperava as luzes do palco se acenderem para ver de perto os caras que décadas atrás fizeram tornar possível que esse Festival acontecesse. Ao mesmo tempo pensava: -será que esses caras se dão conta disso?
Enfim, o Show começou, e Flávio rasgando sua harmônica acompanhado pelo resto da banda levou a mim, esse mero aprendiz de harmônica e sonhador a ficar com os braços arrepiados, e o público, no paraíso.
É incrível o respeito que essa banda tem por parte de todos, e principalmente da sua importância para a música brasileira. A cada riff da guitarra perfeita de Otávio Rocha a cada performance corporal, (no sentido de incorporar mesmo!) a cada começo, meio e fim de uma música, nós, meros seres mortais, convidados a espiar aquele maravilhoso universo de deuses e semideuses, presenciamos momentos de tirar o fôlego com a técnica apurada, a destreza, mas principalmente o feeling, o sentimento de estar fazendo Blues, participando daquele momento e eternizando na mente de todos os presentes, momentos que ficarão incrustados na alma de cada bluseiro que se deslocou até o Moinho da Estação. Otávio Rocha se algum dia precisasse provar algo a alguém de seu talento, aquela teria sido a situação perfeita! Não deixaria pedra sobre pedra.
Ao leitor deve estar parecendo excesso de adjetivos, parecendo aquelas tietes dos vídeos dos Beatles arrancando os cabelos os rasgando a roupa em frente ao palco... não, nada disso, ninguém que eu tenha visto cometeu algo parecido, muito menos eu hein! Mas me perdoem alguns outros gêneros de música popular, mas essa profundidade e mistura de técnica, estudo, sentimento (sem ser melosa), cercada de lenda, feitos e principalmente, contexto cultural e históricos, eu desconheço e é por isso que nosso respeito as vezes parece exagerado, porque no Blues você tem que ter uma qualidade cada vez mais rara hoje em dia na música, Talento, você tem que ter talento pro negócio, se não serão apenas um apanhado de riffs e fraseados decorados, essa é a diferença.
Voltando ao show, foi du caralho assistir a cada um dos integrantes solando com uma afinidade de realmente 20 anos de estrada, mas divertindo-se entre eles como garotos que estão adorando o que estão fazendo. Simplesmente demais! Demais! Flávio Guimarães é dono de talento reconhecido em mais de vinte anos de estrada, falar dessa lenda viva do Blues não somente nacional, mas mundial, seria dedicar páginas e mais páginas falando sobre um cara que me parece que simplesmente não erra! Sendo que ao leitor que se por ventura ainda não conhece um dos pilares do Blues Nacional, informe-se AGORA! O momento alto do show, pelo menos pra mim, foi quando o espetacular Greg Wilson convidou a todos a cantar junto a mágica “Misty Mountain” com a voz rouca e calma, característica pessoal impressa em tantos cds, seja com o próprio Blues Etílicos ou engrandecendo com participações em álbuns de outros artistas, Greg Wilson mostra que realmente isso vem de berço, já que nasceu no próprio Mississipi, trazendo na voz, a bagagem necessária a uma suave viagem conduzida através de melodias certeiras em tons de azul noite adentro.
Sobre Claudio Bedran e Pedro Strasser não me estenderei muito aqui, dois pilares que qualquer um gostaria de ter em sua banda. O Show ficou gravado pra sempre na memória! Principalmente com Flávio agradecendo a todos, elogiando tudo, a qualidade do som, a equipe técnica, a iniciativa da realização do festival, ao atendimento das meninas do Mississipi Bar (alguém discorda?), ao convite para participar desse que, segundo palavras do próprio, na sua segunda edição já se tornou o maior Festival de Blues da América Latina inteira! Encerrou dando os parabéns ao Rio Grande do Sul e a Caxias do Sul e disse que estaria no stand da Itapema para autografar cds.
Olhei pro Douglas e falei:
-Vamo lá que agora é a hora!
Porém, como ainda fomos pegar mais um Chopp e passar no stand da Toca do Disco do Rogério para adquirir mais um cd dos caras, acabamos demorando um pouco e quando fomos para stand da Itapema falar com o Flavio, o cara já tinha saído de lá. Que mancada! Perder de falar com ninguém menos que Flávio Guimarães! Voltamos para a Toca do Disco e comentamos com o cara que trabalhava lá, mas aí ele nos perguntou: -Tá, mas o Flávio tá sempre vindo aqui, deem um tempinho aí pela frente que daqui um pouco ele aparece! Enquanto isso porque vocês não pegam o autógrafo do Otávio?
Quando olho para o meu lado e vejo que Otávio Rocha em pessoa estava ao meu lado olhando alguns cd´s, olhei pro Douglas com um sorrisão largo e disse: -Cara, a sorte tá com a gente hoje!
Chegamos no Otávio que nos recebeu super atencioso, gente boa mesmo! Com uma humildade ímpar. Dá gosto encontrar gente assim! Conversei com ele sobre a MarkaDiabo e tal... falei tudo. Ele achou a idéia genial, disse que gostaria muito de conhecer, pois curtia muito camisetas personalizadas... então procurei na sacola uma do tamanho dele e o presenteei. Ele ficou não acreditando muito que o presente era pra ele, mas o sorrisão de orelha a orelha que abriu entregou o jogo, hehehe... Perguntei se ele tinha gostado da estampa, já que dei uma do Muddy Waters a ele, e porque também o novo cd dos caras é uma homenagem a Muddy. Perfeito! Otávio olhava a estampa, a qualidade da camiseta tecendo mil elogios, quando lhe perguntei se podia tirar uma foto dele segurando a camiseta para colocar no site, ele simplesmente disse:
-Segurar? Cara, eu vou vestir a camiseta de vocês!
Cara, ouvir isso de uma cara desses não tem preço! Logo depois que tiramos a foto, ele berrou para alguém todo feliz:
-Flaviooo, Flaviooo... (adivinhem que Flavio era? SIM, o próprio Flavio Guimarães!) Dá uma olhada na camiseta que ganhei!!!
-Caramba Otavio, legal hein?
O Otávio gostou da camiseta que usou-a pelo resto do Festival, dando umas canjas aqui e ali. Era apontar perto de um dos palcos que já era chamado para abrilhantar o show.
Para encerrar o nosso papo, lembrei que no repertório que eles tinham tocado havia uma do Charlie Musselwhite, que também sou fã, peguei uma na sacola e presentei o Flavio, que elogiou pra caramba o presente, enfatizando que estava muito criativo e bem feito! Falei que sempre fui fã da banda e mais ainda dele, ele agradeceu os elogios e perguntou se eu tocava e tal... e a conversa fluiu com Flavio me dando alguns toques (surreal). Agradecemos e perguntamos se poderíamos tirar uma foto dele com agente segurando a camiseta na frente, ele olhou e disse:
-Claro! Claro! Vamo lá!
Quase não acreditei enquanto saía dali nos despedindo deles, depois dos dois ainda terem autografado o meu cd. Não dava pra acreditar! Essa ia demorar pra “cair a ficha”...
Logo após o show, encaramos a tradicional fila pra encher o copão de chopp (mas claro, sempre vale a pena!) e paramos novamente no Stand da Bends Harmonicas. O Melk já se encontrava lá, sempre recepcionando super bem o pessoal, quando deu um tempinho, cheguei junto para mostrar as camisetas da Marka Diabo, mostrei alguns modelos de estampas de Blues que tinha e de cara ele bateu os olhos no Son House e disse: Cara, essa é minha! Minha! Hehehe...
Perguntou se poderíamos fazer algumas estampas mais voltadas para gaitistas (Little Walter, Sonny Boy Williamsom, etc.) já que disse que tínhamos apenas a do Charlie Musselwhite e do Canned Heat, que por sinal estava usando; confirmei que sim, claro, ficando encarregado de avisá-lo quando colocar no ar as novas estampas, pois curtiu muito a qualidade da impressão e da malha bem como a postura da Marka e a criatividade. Sendo assim, me presenteou coma Bends Prima! Falei que não precisa, mas ele foi enfático: -Cara, se eu ganhei um presente, porque vc não pode aceitar? Toma aí!
Putz velho, demais o presente! Valeu Melk!
Enquanto conversávamos, ríamos, tocávamos (mais ele do que nós, claro!), o Douglas que havia virado fotógrafo de celebridades no evento, me avisou: -Cara, olha quem tá vindo pra cá! Essa é a foto! Não menos que Billy Branch, caminhando a passos lentos pelo meio de todos, com um amigo (creio que o tradutor) a lhe acompanhar. Douglas mais que depressa, assoviou tão alto que o pessoal lá do palco ouviu mesmo com todo o barulho! Obviamente que Billy e o amigo também olharam, então mais que depressa fizemos sinal para que viesse até nós, porque aquela era a oportunidade perfeita para conhecer o homem e lhe entregar uma camiseta da Marka Diabo, porém, ele levou as mãos ao meio das pernas e fez uma cara de dor, indicando que estava se mijando e que iria ao banheiro. Ok, pensamos, já era, foi quase... vai ser difícil achar oportunidade como aquela! E continuamos a conversa com o Melk, tocando, rindo e fazendo muito barulho no stand, quando de repente o Douglas me olha com a cara mais espantada do mundo, quando perguntei o que houve? Ele só disse: -Cara, o homem tá vindo! Eu mais que depressa virei pro Melk e perguntei: -Cara, tu fala bem inglês? Ele só riu e fez uma careta sinal de mais ou menos, virei para o Douglas encarei ele com esperança no olhar, ele captou esse meu apelo soltou uma gargalhada que fui obrigado a rir junto! Não, acho que não... E agora? Chamamos o cara, e ele tá vindo! O que vamos dizer? Ou melhor, COMO vamos dizer alguma coisa que seja?
Até que Billy chegou até nós com um sorriso meio desconfiado de canto de boca:
-Hey Man!... Vindo diretamente a mim me estendendo a mão. Sabe aquele momento que se transforma em câmera lenta? Pois é... eu estava a dois segundos de apertar a mão de Billy Branch cara!!!!
-Hey Billy! How are you? (Olá Billy, como vai?) Falei apertando a sua mão nos encarando com expressões de simpatia mútua...
-I´m fine... (Estou bem...)
-Mr. Branch, I want to give this gift, ok? For you... (Sr. Branch, eu gostaria de lhe dar um presente, ok? Para você...)
-A gift? Me? (Um presente? Pra mim?)
-Yeah man...
(sempre quis dizer isso para um autêntico Bluesman de Chicago, hehehe...)
Então lhe entreguei a camiseta da Marka Diabo com a estampa de Robert Johnson (era a única GG que tinha comigo, hehe...), ele abriu o pacote, desdobrou a camiseta, olhou a estampa e arregalou os olhos e um sorriso:
-Oh Man... Robert Johnson!!! Yeah...
(Putz, o cara gostou muito!)
-Do you like Mr. Branch? (O senhor gostou Sr. Branch?)
-Very... Thank you Man! Thank you! (Muito... Obrigado cara, obrigado!) Falou me agradecendo olhando nos olhos com um sorrisão.
-Thank for you man! (Obrigado a vc cara!)
Então solicitei para o amigo que o acompanhava que explicasse sobre a Marka Diabo e tal...
O cara fala enquanto Billy me olhava com cara de quem estava entendendo tudo, até ELE MESMO PEDIU para que tirássemos uma foto, e piscou o olho, entendemos que seria para ajudar na divulgação do site, Bah, o cara era simpatia em pessoa! Mas como o momento era único solicitei mais uma foto sem a camiseta, para arquivo pessoal, e ele topou na hora. O Douglas também aproveitou o momento, e logo ele já foi se encaminhando para a saída se despedindo de todos, pois iria dentro de instantes fazer uma participação especial no show de Carlos Johnson, também de Chicago.
E saiu andando seguindo seu caminho entre os mortais que ali estavam. Ao me virar olhei o Melk e o Douglas com cara de espanto e rindo, tipo: -Pô tava todo preocupado em não conseguir falar com a cara e acabou mandando muito bem no inglês!
Realmente até hoje não sei como saiu sem gaguejar... Sem hesitar nem nada... saiu, só isso. Não sei de onde veio, mas consegui entender numa boa e me fazer ser entendido. Acho que a necessidade era maior! Hehe... Tá, tudo bem que não foi o”O diálogo”, coisa simples mesmo, mas já vi gente que “travou” não conseguiu emitir sequer um oi direito. Parecia petrificado pela medusa! Pensando assim acho até que me saí bem...
Quando o super show de Carlos Johnson começou entendi porque guardaram o melhor para o final. Carlos, que também é de Chicago, subiu ao palco com seu amigo Billy Branch, onde novamente nos agraciou com sua técnica e sentimento, mas ao lado de Mr. Johnson, parece que recebeu alma nova. Carlos por sua vez, nos embriagou com refinamento, em doses pequenas, porém amargas de seu Blues, como um bom Bourbom sempre deve ser, amargo e difícil de ser ingerido no começo, mas depois que passa pela garganta e alcança a corrente sanguínea, aí leva apenas alguns doces segundos para alcançar o centro do seu cérebro e anestesiá-lo ao poucos. Carlos veio a Caxias do Sul e assim como Billy Branch, mostrou e ensinou a todos porque Chicago é a Meca para todo e qualquer bluseiro, é beber direto da fonte, apreciar a história do Blues mundial “in loco” .
Com canções que ao invés de expressar as tristezas da vida, a mim me pareceu que este sentimento tão característico do Blues fora deixado de lado, tamanha a euforia e felicidade com a qual demonstrava de estar presente aqui, principalmente após, sem parar para respirar um segundo sequer, virar um copo inteiro de caipirinha que lhe foi ofertado pelo Toyo, para espanto e gritaria geral de todo o público presente, o cara era uma figura... Sempre sorrindo, fazendo piadas, arrancando aplausos e assovios de todos, depois de algumas canções alcançadas com extrema perfeição, Carlos Johnson resolveu presentear a platéia, descendo com sua guitarra até o meio do público, fazendo com que um apanhado de seguranças o cercassem e dando aos mesmos muito trabalho. Não parou de tocar e cantar um minuto, mesmo com alguma dificuldade de descer as escadas do palco, devido a estar um pouquinho acima do peso digamos, e aliado a isso, sua idade que deve também fazer alguma diferença nessa hora. Mas o importante era que naquele momento, com todos os “armários” fazendo a segurança de Mr. Johnson, flashes de câmeras, braços tentando tocar em algum pedaço de seu corpo, empurra empurra, demonstrava estar muito a vontade entre nós mortais. Na mesma hora em que essa loucura acontecia, eu que estava mais afastado, pois estava na lateral, olho para o palco e vejo Billy Branch com um celular filmando tudo lá de cima, até que virou o aparato em nossa direção, não tive dúvidas apenas ergui o braço lá de baixo e dei apenas um tímido aceno de: Valeu cara!
Na mesma hora, Mr. Branch, tirou o olho do aparelho e focou onde eu estava para ver quem havia acenado, então foi que mesmo lá de cima ele me reconheceu, sorriu, e acenou de volta com a cabeça, como quem dissesse: -Oh, is you Man... (Oh, é você cara...)
Apenas sorri e acenei com a cabeça, como quem respondesse: -Yeah Man, it´s me... (Sim, sou eu)
Carlos voltou ao palco e terminou o resto de seu show com Billy Branch, arrepiando os cabelos de todo o público ali presente extravasando sentimentos e técnicas simplesmente incríveis e inesquecíveis, não só para mim, mas para todos que presenciaram um espetáculo como aquele. Por fim, esbanjou ainda mais simpatia, mostrando-se muito satisfeito pela recepção que teve aqui no Brasil e pela organização e estrutura do Moinho da Estação Blues Festival em sua 2° edição.
O zoeira seguiu noite adentro no Bar Mississipi até as 6 da matina, com inúmeras jam´s, como já era de se esperar, com a participação de inúmeras estrelas, bom demais e pra ficar pra sempre gravado na memória.
Bom, espero ter conseguido passar um pouco do que foi a emoção de ter presenciado ao Moinho da Estação Blues Festival em sua 2° edição.
Deixo meus parabéns a todos da equipe de organização, não somente pela iniciativa, mas pela excelente qualidade de tudo, mas também pela preocupação com os mínimos detalhes. Que venha o 3°! Pois se você ainda não conhece, vale a pena fazer uma “caixinha” e já ir juntando grana para a edição do ano que vem, pois evento assim torna-se um patrimônio de todo o público que de alguma forma seja ligado e enraizado ao Blues, seja como músico; pois o aprendizado acontece a todo momento por lá; seja como consumidor; pois o roll de estrelas a ser visto por lá é sempre de primeira qualidade e escolhida a dedo.

Deixo um forte abraço ao Nino Lee e a Ana sua esposa, pela idéia e visão em tentar mostrar não somente aos bluseiros desse país que moram em regiões distantes, mas também tentar relatar e passar essa vivência a públicos de outros gêneros musicais que por ventura desconheçam o Blues. Agradeço também ao meu grande amigo Douglas Caberlon que sem o apoio relatado acima, tudo ficaria muito mais difícil, a Dani Bunitona pelo apoio e a Liliane (minha chefe)pela compreensão do amor que tenho pelo Blues . Valeu a todos e fico aqui na torcida para que na edição do ano que vem a grande Cracker Blues, possa figurar e brilhar como eles brilham entre as atrações do evento .

Michel Krause

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