Nada melhor para um blog que faz parte de uma grife que também lida com o cinema do que chamarmos alguém expert no assunto para um bom bate papo sobre esse planeta e esse cara para nós não podia ser outra pessoa que não fosse o editor chefe da revista Set, Roberto sadovski .
Radiante de volta a sua sala na Set, depois de uma reviravolta que fez com que toda a tradicional equipe da maior publicação de cinema do país fosse demitida em massa no inicio desse ano,inclusive ele , quando a revista acabou vendida a um jornal carioca , Roberto me contou um pouco de sua historia e sobretudo me mostrou o quanto ele é pop e respira o cinema como raramente se encontra alguem por ai.
Nino - Roberto, quando começou a paixão pelo cinema na sua vida?
Roberto - Inconscientemente, foi quando eu tinha cinco anos e vi Superman no cinema. Daí eu sempre acompanhei e gostei. Mas acho que, em 1987, eu comecei a prestar mais atenção em filmes. O click acho que foi depois de ver Coração Satânico (policial de Alan Parker, estrelado por Robert De Niro e Mickey Rourke). Aí fodeu (risos).
Nino - Você começou como jornalista em outras áreas. Como foi parar na crítica cinematográfica?
Roberto - Comecei em redação de geral mesmo. Cidades, política, economia, esportes, polícia, etc. No caderno de cultura do Diário de Natal, onde eu morava, já tinha gente escrevendo sobre cinema. Daí rolou um estresse com o editor e ele me pediu para escrever. E eu fui, claro.
Nino - E como foi essa transição entre o Diário de Natal para uma publicação de âmbito nacional, estabelecida em São Paulo?
Roberto - Em Natal não tem como trabalhar como jornalista. Só se for com política.
Eu sempre li a SET. Aí tirei férias e vim pra São Paulo meter a cara.
Nino - Porém, a SET já era grande no País, com uma equipe já formada. Como você descolou essa brecha?
Roberto - Ninguém me colocou lá dentro. Eu apareci lá e conversei com a editora-chefe, a Isabela Boscov. Ela leu meus textos, conversamos. As férias acabaram e eu voltei para Natal, onde à época estavam rodando um filme, For All (- O Trampolin da Vitória, de 1997). Eu acompanhei as filmagens e sugeri a pauta para a revista. Mandei, e, no dia seguinte, a Isabela me chamou para vir a São Paulo porque tinha uma vaga na SET. E eu vim.
Nino - E começou na SET como?
Roberto - Editor-assistente.
Nino - Como aconteceu de chegar ao comando da publicação?
Roberto - Levou tempo. De assistente passei a editor. A SET estava na editora Abril e ia para a Peixes. Mas a Isabela não queria sair de lá. Eu quase fiquei para atuar na Contigo. Mas arrisquei e fui com a revista para a nova casa. Lá, de editor passei a editor-chefe e, anos depois, tornei-me diretor. Hoje sou editor-chefe de novo.
Nino - Como é estar diante dos famosos da indústria cinematográfica?
Roberto - Nunca pensei neles como pessoas diferentes. Acho que jamais os coloquei nessa posição. Desde a primeira vez que viajei para uma cobertura fora do Brasil, em momento algum pensei assim. De perto, todo mundo é gente igual.
Nino - Quem você considera os seus entrevistados mais marcantes?
Roberto - Hmmm... George Lucas, por Star Wars... Todos os diretores que eu admirava e pude conversar: Cronenberg, David Fincher, Scorsese...
Nino - Pessoas que realmente possuem um nível de mentalidade acima do comum?
Roberto - Sim. Ideias parecidas com as minhas de como o cinema deve ser. O Guillermo del Toro é um barato, principalmente.
Nino - Existe “esnobismo” nesse meio, Roberto?
Roberto - Nunca. Nenhuma pessoa que eu conversei me esnobou. Tinha as “avoadas”, tipo a Paris Hilton. Mas pouco me interessava o que ela ia dizer. Não ia usar, anyway.
Nino - E quanto a essa nova geração engraçada de Hollywood, quem você considera ter mais talento e personalidade?
Roberto - Judd Apatow é mesmo muito bom. O Seth Rogen é bom. O Steve Carrell é bom...
Nino - Cara, quem são seus atores prediletos?
Roberto - Caralho, a lista é gigantesca. Vou ficar a noite inteira! (risos)
Nino - Que venha o primeiro da sua mente...
Roberto - Daniel Day-Lewis.
Nino - Essa entrevista é para um blog quase que especificamente rock. Qual o melhor filme que envolve esse gênero musical, na sua opinião?
Roberto - Hmmm... Spinal Tap. Mas tem outros.
Nino - Passa uma lista de três pra gente. Pensa aí.
Roberto - Música e cinema é uma combinação foda. Quase Famosos, Ainda Muito Loucos, The Wall...
Nino - Legal você citar o Ainda Muito Loucos. Eu o adoro, e sempre o vi como um filme esquecido, deixado de lado...
Roberto - Ainda Muito Loucos é espetacular. Eu falei pro Bill Nighy que era o melhor filme dele.
Nino - Mesmo hoje há diferença entre o cinema produzido em Hollywood e na Europa?
Roberto - Hoje, nenhuma. Cinema é cinema. As pessoas confundem cinema americano com cinema dos grandes estúdios. Mas existe uma produção independente bem diversa.
Nino - Mas quanto às diferenças entre blockbusters e o que sai fora desse nicho...
Roberto - A diferença é o tamanho do orçamento e as ferramentas. Não esqueça que a responsabilidade de fazer um filme caro é bem maior do que a de fazer um filme barato.
Se um estúdio despeja 200 milhões de dólares numa obra, com certeza quer retorno.
Nino – E o melhor filme já feito no Brasil, na sua opinião?
Roberto - Cidade de deus é o filme mais foda que a gente já fez
Nino - Qual seu super herói favorito nos quadrinhos melhor adaptado às telonas?
Roberto - Homem Aranha. Mas O Cavaleiro das Trevas é fodão.
Nino - Roberto, depois de anos na SET, rolou um rompimento brutal há pouco tempo. Isso deve ter sido uma barra para alguém tão conectado com a alma da publicação como você. Como aconteceu isso?
Roberto - Bom, a editora Peixes havia sido vendida para um empresário carioca. Em março (deste ano) ele achou por bem demitir todo mundo e passar a revista para a equipe do Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro. Foi uma imensa cagada. Eu fiquei péssimo, claro. Foram anos dedicados a um título ver jogado no lixo. Foi triste.
Nino - Mas, por outro lado, você conseguiu com muito esforço reverter essa situação e ter de novo a revista em suas mãos. Isso é algo que eu gostaria muito de saber como aconteceu, porque você deve ter passado noites insones pensando no que fazer, já que mantinha relação tão intrínseca com a SET há tanto tempo...
Roberto - Velho, eu pensei de todo jeito. Tinham me dado opções, de tentar levar para outra editora, arrendando-a da Peixes... Mas ninguém que eu falava queria negócio com o cara que era o dono. Quando vi a primeira edição do Rio, doeu mesmo. Ficou péssima. Amadora. Mas o mundo dá voltas.
Nino - E como recomeçar tudo novamente e sozinho?
Roberto - Nessas duas edições? Dureza. Não só por tocar a revista sozinho, mas também para arrumar a bagunça que deixaram.
Nino - Pelo menos, pelo que se viu, foi a volta do espirito tradicional da SET, que, por sinal, ficou excelente.
Roberto - A segunda tá melhor ainda. E a de dezembro vai ficar ainda mais foda.
Nino - E continua a SET de um homem só?
Roberto - Não, a partir de dezembro já terei mais gente na equipe. Só não posso dizer ainda quem é (risos).
Nino - Bom, uma pergunta foda de responder... Mas você tem um filme predileto?
Roberto - Putz, impossível. Tenho uns mil! (risos)
Nino - Eu sabia. Mas, falando um pouco de som, quais suas bandas favoritas?
Roberto - Caralho, é uma lista de mais mil. Eu adoro música.
Nino - Bom, pra mostrar que você é um cara eclético, uma banda de metal, então.
Roberto - Mastodon.
Nino - Excelente resposta!
Roberto - (Risos) Mastodon tá fazendo a trilha de Jonah Hex (HQ western da DC Comics que ganhará adaptação para o cinema em breve).
Nino - Uma trilha de filme com bandas que você acha impecável?
Roberto - Porra, Pulp Fiction.
Nino - Você chegou a trocar uma ideia com o Tarantino? Que tal o cara?
Roberto - Só no lobby do (hotel) Four Seasons. Uma vez (risos).
Nino - Hoje em dia a gente vê muitas revistas saindo de circulação. A internet atrapalhou um pouco o rumo das coisas, nesse ponto? Como você analisa a longevidade da SET durante todos esses anos?
Roberto - Cara, é meio inexplicável. A internet não nos atrapalhou tanto quanto a outras publicações, talvez porque a gente dê sempre material diferenciado. Mas é essencial ter suporte digital tanto quanto a revista.
Nino - Atualmente é preciso se desdobrar muito mais, não?
Roberto - Na verdade, é preciso ser criativo como sempre. Se o cara compra uma revista, ele quer muita informação e nada ralo demais.
Nino - Por que a seção de música foi tirada da publicação?
Roberto – Porque tenho planos de lançar uma revista voltada para o assunto
Nino - Se você pensa numa revista voltada à musica é porque com certeza ela terá um diferencial, o que significa que revistas com conteúdo mais legal está em falta nas bancas. Estou certo?
Roberto - Bem por aí... no estilo da SET.
Nino - Fico na torcida por isso também, porque só aquela página que existia na SET - principalmente pelo fato de não parecer ter ligação a grandes gravadoras nacionais - me mostrou muita coisa que não havia sido ainda lançado aqui. Isso é essencial...
Roberto - Sim, essa é uma das ideias.
Nino - E o mercado de novos jornalistas? Muita gente deve procurá-lo, certo? Como você avalia um cara novo pretenso candidato ao cast da SET?
Roberto - Muita gente procura. Mas tem de ser um cara pop e que respire cinema tanto quanto a gente. Isso é beeeeeeeeem raro.
Nino - Pra fechar, tem alguém que você queria muito entrevistar e ainda não o fez?
Roberto - Hmmmm... Ainda não falei com tanta gente, bicho... De Niro, Pacino, Spielberg...
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