O Alagoano Junior Bocão é uma pessoa que pode ser definida como o significado de persistência , determinação e amor á musica acima de tudo .
Começou cedo na batalha ,como baixista fez seu nome em uma das mais cultuadas bandas do cenário independente nacional,a explendida Mopho ,que repercutiu de forma intensa no final dos anos 90.
Com a ruptura da banda após o primeiro disco Bocão acabou tentando sorte em São Paulo onde envolveu-se com dezenas de trabalhos musicais excelentes adquirindo uma bagagem digna de poucos. Fui conversar com ele, direto de Alagoas onde eles preparam material para um esperada volta do Mopho em sua formação 99% original , para que pudesse nos contar um pouco sobre sua vida,planos e o andamento deste tão aguardado disco da banda que projetou sua multifacetada carreira .
Nino- Bocão ,voce foi um dos fundadores de uma das mais cultuadas bandas do cenario independente nacional ,a Alagoana Mopho , teu lance com a musica começou ae ,ou tem uma historia anterior até chegar ao mopho?
Bocão -Aos 15 anos, morando ainda em Arapiraca (agreste alagoano), fui convidado pelo João Paulo para formar uma banda de cover dos Beatles. Tudo começou ali. Eu, com 16 anos, troquei um aparelho de vinil chamado "ABC - A Voz do Brasil" por um contrabaixo Redson que pertencia ao João Paulo. Isso foi em 1990. Entrei na banda apenas com dois meses de instrumento, toquei Beatles até 1993 ,quando comecei a compôr e montei o Spring. Com essa banda gravei duas demos.
João Paulo mudou-se para Maceió e por lá montou uma banda de blues chamada "Água Mineral", o embrião do Mopho. Em 1997, João Paulo junto com Hélio Pisca e Alessandro Aru gravou a primeira demo do Mopho. Neste momento o Aru saiu da banda e fui convidado a entrar. Mudei para Maceió e começamos a fazer os primeiros shows de divulgação da demo.
Daí por diante gravei a segunda demo já em CD, que foi "Um Dia de Cada Vez". Em 1999 gravamos o primeiro disco do Mopho.
Nino - Como o MOPHO conseguiu atingir a repercussão que teve, afinal ,hoje em dia a gente sabe que,mesmo com o cara tendo uma boa banda,de otimas canções,não consegue sequer sair de sua cidade?
Bocão - Fomos ousados. Acho que pouca gente tem a coragem de sair como desconhecidos e encarar uma megalópole como São Paulo, e nós fomos! Mas a banda tornou-se conhecida devido a qualidaade do trabalho que apresentávamos.
Em plena efervescência do mangue-beat, éramos uma das poucas bandas que fazia rock brasileiro com influências retrôs e tal.
Nino- Como voces sentiram o impacto de ter tantos meios de comunicação chegando a apontar a banda como um novo mutantes até ?
Bocão - Não sei se lidamos bem com isso na época. éramos apenas quatro caipiras cheios de idéias musicais, não nos apegávamos muito a conceitos e nem tendências. Sabíamos mesmo era fazer música, subir no palco e mandar o som. Isso mexeu um pouco com a nossa cabeça, não tínhamos muita maturidade. Era muita coisa acontecendo em meio a tanta lisergia.
Nino - Era realmente impactante assistir a um show da banda na epoca,eu mesmo tive a oportunidade de ve-los no Morrison em São Paulo,com a presença do Carlini ,era realmente devastador entrar em contato com uma sonoridade que nos remetia a Casa das maquinas,Beatles ,som nosso de cada dia, mutantes,Led... O que influenciava o som de vocês ??
Nino -Sim! Pink Floyd, Led Zeppelin, Beatles, Mutantes eram bandas de cabeceira, entre outras.
Nino - O que na real inspiraram o rock brasilerio dos anos 70...
Bocão- Esse impacto no Brasil deu cria a bandas como Som Nosso de Cada Dia, O Terço, Secos & Molhados... todas essas grandes bandas brazucas nos influenciaram muito.
Nino - Tem uma historia do Wondermints em relação ao mopho né (para quem não sabe os Wondermints são uma das bandas atuais que mais se aproximaram da psicodelia e altamente influenciada pelo Pet Sounds ,tanto que chegaram a ser banda de apoio de Brian Wilson) a banda chegou a tocar no circuito de college radios gringas por uma mãzinha deles né?
Bocão - O batera pirou com o som da banda. Lembro que o Calanca comentou sobre isso.
Sim, a banda tocou durante um ano na rádio Karl de Berkley desbancando nas paradas até Willie Nelson. No mês de março de 2000 ficamos em quinto lugar nas paradas e no top 25 do ano.
Nino –E como rolou a separação de algo que parecia tão entrosado,tão vindo pra ficar?
Bocão -Isso já foi superado. Éramos imaturos e houve um momento em que não nos entendíamos mais. Depois da turnê que fizemos no Sul em 2002 a banda voltou para casa muito desgastada. Brigas, desentendimentos, diferenças musicais, a coisa desandou. Agora estamos nos dando uma segunda chance, com mais experiência, mais musicalidade, podemos retomar o caminho. O novo disco vai surpreender muita gente.
Nino- Você decidiu por não voltar para Alagoas ,decidiu tentar a sorte em São Paulo,depois do fim do Mopho ,como foi recomeçar assim do zero?
Bocão - Em 2003, depois que a banda rachou, resolvi gravar as minhas músicas que já estavam sendo trabalhadas para o segundo disco do Mopho. Convidei o Pisca e juntos montamos a Casa Flutuante. Passamos quase o ano inteiro de 2003 gravando o disco. Lançamos em janeiro de 2004 e em março mudamos para São Paulo.
Recomeçar foi um desafio mas ao mesmo tempo foi uma grande experiência. O Mopho ficou parado um certo tempo e eu e Pisca continuamos nossas experiências sonoras.
Eu precisava disso, precisava continuar. Estava num momento criativo, compondo bastante. Não podia parar. Hoje olho para trás e tenho a certeza de que construí uma banda bacana. Fiz e continuo fazendo a minha história, independente do Mopho. É claro que o reconhecimento que o Mopho já tinha nos abriu muitas portas.
Mas a Casa Flutuante conquistou seu espaço.
Nino - Quando criei o satelite undergroun no nosso site,e fui pesquisar sobre a nova cena nacional encontrei tua participação em varios projetos,quantas coisas tu anda envolvido bocão ?,como arranja tempo pra tudo isso?
Bocão - Em Alagoas eu já transitava muito entre as bandas daqui. Sempre curti fazer sons com pessoas diferentes. Em São Paulo, por necessidade mesmo, me joguei em vários projetos mas nunca em projetos que eu não acreditasse que eram bons. Os Skywalkers por exemplo é uma banda que eu acompanhava e sempre tive uma ótima relação com todo mundo. Quando fui convidado a participar da banda aceitei no ato.
O Oxe era uma banda contemporânea do Mopho, uma banda super parceira. Eles estavam em São Paulo e estavam sem baixista. Eu já curtia o som dos caras e somos muito amigos. Mais um convite aceito.
Nino -uma banda q por sinal acho uma das melhores do Brasil....
Bocão - O Boomerangue é um projeto de amigos. Paulinho Pessoa é guitarrista do Paulo Ricardo, é daqui de Alagoas e somos amigos desde a adolescência. Já fazíamos sons juntos em Arapiraca, inclusive tivemos uma banda com o João Paulo.
Sobre ter tempo, tenho todo o tempo do mundo. A única coisa que faço é tocar!
Teve um momento em que eu tinha sete bandas em São Paulo. às vezes saía correndo de um show para o outro, uma loucura. MInha cabeça pirava com tanta música
Mas assim fui construindo meu nome e assim continuo.
Nino - Um exemplo,muito raro de se ver por ae cara.
Bocão- Tenho necessidade de experimentar e vivenciar a música. Uma coisa parecida com um tipo de obsessão. Quero fazer tudo o que puder até onde der. Antigamente eu priorizava tocar numa banda e isso eu colocava acima de mim. Hoje em dia a coisa se inverteu. Eu sou a prioridade, tenho conseguido lidar com tudo isso porque trabalho com pessoas bacanas que fazem trabalhos sérios.
Nino- mas não só falando sobre a correria, como essas bandas desencavam espaço para tocar num cenario muito diferente e mais retrancado que nos anos 90?
Bocão -Por isso que é fácil tocar em tantas bandas. A agenda de cada banda é pequena. O cara tem que se virar em mil. Tem que estudar música, ouvir música, compôr, se relacionar com músicos, se relacionar com donos de estabelecimentos, tem que ser relações públicas, assessor de imprensa, diretor de marketing e ainda tem que ter carisma, ter myspace, perfil no orkut, facebook, twitter e a putaquepariu.
Não é fácil!
O pior é que o cara tem que ser feliz, mesmo ganhando pouco ou quase nada. Ainda ser quase um santo, porque aguentar essa imprensa desqualificada predominante nesse país não é fácil. Um monte de banda ruim ganhando prêmios, sendo capa de revistas, um monte de jornalistazinhos de meia-tigela pagando pau pra gringos, é mole? acho que vou direto pro céu!
Nino - Tu acha Que há esperança para que o cena nacional seja novamente reconhecida pelo talento e não pelo dinheiro injetado no q é hoje pregado como 'rock nacional?
Bocão -Eu ligo a TV e tenho vontade de morrer. Acredito em um tipo de comunicação direta, existem pessoas que buscam informações, que pesquisam realmente sobre música. Não faço muito esforço pra pintar nestas mídias saturadas. Com o advento dessas novas tecnologias, dá pra ter uma relação direta com as pessoas que realmente gostam de boa música e isso é o que interessa. O Brasil não é os Estados Unidos.
Não fabrica mega artistas pop's. Na nossa realidade, e com ela temos que lidar, um cara conseguir tocar para um mínimo de pessoas qualificadas já é uma grande conquista. Não acredito muito nas massas, até mesmo porque não faço parte delas.
Nino- E como rolou essa reunião do Mopho, muito se falou que a banda não conseguiu se superar com a mesma intensidade e qualidade no segundo disco, embora seja um disco bacana ,antes da dissolução ja tinhamos a demo do que seria uma prévia do segundo album quando a banda veio pra aquele giro no sul, que para minha alegria acabei sendo o idealizador daquela toure o material estava bem diferente do que acabou saindo no segundo album. Como tu recebeu esse retorno sem tua presença e a do Pisca?
Bocão - O disco foi regravado sem mim e sem o Pisca. Naturalmente, minhas músicas não foram gravadas, o que justifica eu tê-las gravado no disco da Casa Flutuante. Na realidade eu gostei de saber naquela época que o Mopho tinha lançado um segundo disco. Gosto das canções desse disco mas não curti muito a produção do mesmo. Apesar de o disco não ter tido a mesma repercussão da estréia, foi importante .
Principalmente pelo fato de ter incluído uma faixa na trilha sonora do filme "Wood & Stock". Apesar de muita gente não gostar desse disco, tem ótimas composições do João Paulo e boas idéias de vocalização. O clima triste talvez tenha sido um reflexo do momento que João vivia. É notório que a banda não era a mesma. Muitos fãs não curtiram as inúmeras formações pelas quais a banda passou mas João Paulo não deixou a peteca cair.
Talvez tenha sido fundamental para uma reflexão por parte dele e para que houvesse esse retorno meu e do Pisca.
Nino- A euforia voltou?
Bocão -É engraçado, estamos sempre nos divertindo. Eu particularmente conheço o João Paulo a 20 anos, temos muitas histórias juntos e com o Pisca rola uma harmonia bacana. Até certo tempo nós três éramos o Mopho. O Dinho Zampier, que é o atual tecladista, é um cara muito divertido. Rola um equilíbrio bacana.
A euforia veio à tona novamente.
Nino –Abre para nós,q estamos ansiosos,qual o direcionamento desse novo disco,mudou alguma coisa,ou segue o mopho com aquela veia do primeiro trabalho,algumas influencias novas pintaram no processo?
É obvio q voces e principalmente tu ,adquiriu uma bagagem e tanto nessas tuas andanças...
Bocão-Eu assino a maioria das composições do novo disco e há também algumas músicas do Pisca. João Paulo compôs pouco para esse disco mas toda a genialiadade dele está lá, presente com suas guitarras e a voz inconfundível. Vou cantar algumas desse disco também. O que realmente salta aos ouvidos nesse novo trabalho é a qualidade da gravação. Acho que pela primeira vez gravamos um trabalho em que todos ficaram satisfeitos com os timbres.
Tem peso, os arranjos estão excelentes. O disco é um passeio entre os dois primeiros discos mas acho que vai além. As composições são fortes. Acho que estamos mais maduros e prontos para retomar o caminho.
Nino -Algumas bandas pra citar como influencia?
Bocão -Hoje não há mais uma influência direta de nenhuma banda. Este trabalho tem a cara do Mopho. Pode parecer com o que você quiser, mas quem ouve sabe que é o Mopho.
Nino- E quanto ao processo de distribuição do disco, empresariamento, voces vão seguir sozinhos ou procurar alguma ajuda?
Bocão -Estamos concorrendo a um edital do Ministério da Cultura, antes de tentar lançar por algum selo vamos tentar lançar por conta própria para começar a divulgar. Nada de pressa, mas uma coisa é certa: queremos fazer diferente dos outros dois discos.
Nino-Tu acha q o mopho errou em alguma parte desse processo entre os dois discos?
Bocão -Ainda acredito que poderia ter dado certo lançar o segundo disco pela ACIT. Mas isso seria uma outra história.
Nino- Era o que todos aqui acreditavamos ,afinal o sul é um estado psicodelico de veia roqueira, afinal Bixo da seda saiu daqui, Liverpool saiu daqui...
e voces tinham uma moral muito grande e grandes possibilidades estruturais para tocar se tivessem topado o contrato com a Antídoto...
Bocão - Estávamos com tudo, lembro que a nossa passagem por aí foi um acontecimento.
Nino –O publico fazia reverencia a banda ,algo q se perdeu demais hoje em dia
falta uma banda com esse porte.
Bocão -Mas o fato é que não vingou. E como acontece na ficção, na real aconteceu conosco. De tudo aconteceu! Tentativas fracassadas de lançar o disco no Japão, tocar em festival psicodélico na Espanha, turnê nos EUA... cada coisa louca. Era pro Arnaldo Baptista tocar com a gente no Abril pro Rock! Aí melaram esse encontro e ele foi figurante do show do Lobão. Rafael Ramos, Miranda, André Rafael, ACIT.. muito se especulou e pouca coisa aconteceu.
Tirando o fato de termos feito shows no Brasil inteiro, de parte da banda ter viajado de carro do Nordeste ao Sul do país, era a banda perfeita mas sem o Brian Epstein;
Nenhuma conclusão que a gente tirar agora vai mudar os fatos. Com todo o respeito a todas essas bandas badaladas da cena atual, fomos os precursores de uma onda que não acontecia no Brasil desde os anos 70. Muita banda hoje levanta essa bandeira retrô. Algumas dizem ser psicodélicas, outras que são folks... tem até banda que acha que é o The Who. Nada disso empolga. O Mopho já fazia isso a mais de
dez anos atrás.
e boto fé que essa galera aí nem de longe faz o que a gente pode fazer no palco.
Ainda não. Estou produzindo, paralelamente ao Mopho, um disco com Ana Galganni que é vocalista do Expresso Monofônico e minha garota. O duo se chama Divina Supernova e acho que esse material todo sai em janeiro de 2010. Não vejo a hora de ter a oportunidade de abrir um show de grandes bandas como Cachorro Grande, Vanguart. Será lindo vê-los subir ao palco depois de nós! Hehehe
Nino - ok,pra fechar então,o mopho será uma prioridade ou um projeto ,tem essa coisa de cair na estrada á serio,encarar de novo o desafio q foi encarado antes?
Bocão - claro!
Nino -Porque o Mopho é uma das maiores bandas do Brasil mas pra todos efeitos está suspensa no ar né ,precisa de um novo start ....
Bocão -O Mopho é uma grande banda! O público quer isso e nós também queremos. Fizemos 6 shows nesta retomada, e o burburinho foi o mesmo. A banda tocou em São Paulo, Macapá, Maceió e recentemente em Belo Horizonte no Festival Garimpo, foram momentos incríveris no palco e as platéias reagiram da mesma forma, cantando junto conosco e a vibração foi incrível. Digno de um clássico, ainda que uma banda(...)
undergroud!
Dou a cara a tapa, sem medo, pois sei que fazemos bem feito e tocamos com muito tesão. Quem quiser que aguarde e confira!
Nino -Tem musicas ja prontas?
Bocão -quase prontas!
faltam apenas detalhes
1 comentários:
Jr Bocão, grande musicalidade...
sucesso sempre parceiro!
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