segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

SAMMLIZ E A MADAME SAATAN EXORCIZANDO MESMICES





A Madame Saatan é outras destas gratas surpresas dentro do novo cenario nacional de rock, uma banda que já tem bons anos de estrada e utiliza-se de um senso auto critico feroz como o som que fazem,um rock de peso altamente energetico dotado de conteudo e atitude de tirar o chapéu .
Conversei com a vocalista ,a super carismatica Sammliz ,que pelo que deu para perceber possui uma bagagem e tanto no que toca a gostos pessoais e ideologias ,uma longa historia que vai da admiração e vivencia direta desde os tempos do Olho seco e Cólera até a admiraçao por estrelas como Elis Regina .
Ela e sua banda sabem muito bem onde pisam e onde não devem pisar para que conquistem respeito a admiração necessarias para serem o que são autenticamente ,suas palavras possuem força e fogem do conteúdo vazio que reina entre grande parte das bandas do rock nacional , aproveitem cada palavra por que é de pessoas assim que o rock necessita .

Nino – Sammliz, você já tinha um envolvimento musical antes de fazer parte do Madame Saatan com experiências de punk e hardcore... como foi esse começo ?

Comecei em uma banda que nem chegou a sair do esquema ensaio e logo depois entrei em uma banda de punk-hardcore chamada Morganas, com 16 anos mais ou menos. Era para ser a baixista, mas acabaram me empurrando pro vocal. O começo foi aquela coisa divertida e despretensiosa mesmo, eu só vivia para ensaiar, estudar e frequentar shows no Teatro Waldemar Henrique, templo do rock paraense na época. Achávamos o máximo ser a única banda de garotas da cidade e ainda havia gente que gostava da tosqueira do som que fazíamos, então, tava bom demais. Escutava coisas como Vírus 27, Olho Seco, Cólera e Mercenárias que conseguia de amigos que tinham gravações de cassetes toscos e já escrevia umas coisas, mas era tímida demais pra mostrar. Um amigo que era de uma outra banda punk fazia as letras. Uma ou duas coisas minhas entraram, eu acho.

Nino - A música pesada já fazia parte da tua vida muito antes de montar uma banda seja no metal como no punk rock.
Com que idade o rock mais pesado passou a ter tua admiração e quais foram as primeiras bandas que fizeram tua cabeça nesse sentido?

O primeiro disco de rock que ouvi na infância foi o The Dark Side of the Moon do Pink Floyd. Meu pai acho que nem tinha idéia do que estava fazendo quando comprou a fita cassete(hehe) e colocou no carro inúmeras vezes enquanto nos levava à alguma praia. Minha mãe gostava de Queen e haja Queen na estrada também. E assim eles iam construindo sem saber meu gosto pela coisa. O som mais pesado foi pouco tempo depois, na entrada da adolescência, quando uma boa alma emprestou um vinil do Ozzy Osbourne, e ai entrou o Black Sabbath em minha vida, que puxou Metallica, Slayer, DRI, Pantera, AC/ DC, Anthrax...

Nino - Fale um pouco sobre essa experiência como serem convidados a fazer a trilha sonora para a peça teatral de um espetáculo baseado no Ubu Rei, de Alfred Jarry.

Eu estagiava no setor de artes cênicas de uma universidade e o diretor, Paulo Santana, me chamou para fazer a trilha quando soube que tinha uma banda. Já era o Madame Saatan, mas não tinha esse nome ainda. Jogamo-nos e passamos a fazer as músicas para o universo “Ubulesco” que ele queria. Foi intensa a experiência e a partir dela a gente virou banda mesmo.

Nino - Ouvindo o ecletismo calçado no rock de peso da Madame Saatan nota-se que Cada músico, pelo que se percebe, tem um diferencial de gostos musicais, que geraram a sonoridade que acabou criando uma personalidade forte na banda. Qual o papel de cada um nessa fusão que explode em uma sonoridade visceral e e ao mesmo tempo consegue dosar toques do melhor feito na musica popular brasileira e ritmos regionais e focloricos ?

Eu estava vindo de duas bandas seguidas que faziam esquema gig e não aguentava mais aquela vida. Eu e Icaro, velhos parceiros musicais, queríamos encontrar gente disposta a fazer som autoral, pesado , em português e que tivesse um plus a mais que não sabíamos bem o que seria. Encontramos o sangue novo de que precisávamos meio que por acaso. Ivan tocando em um bar obscuro e Ed em um karaokê.

Nino - O grande diferencial de vocês está nas pitadas regionais embutidas no som, uma experiência que ajudou a tornar o Sepultura mundialmente conhecido, e levar até o resto do mundo um pouco do que existe de fantástico nessa parte cultural regional de cada estado. Como vocês mantêm contato com isso (já que pode tanto ser por pesquisas como por um contato direto que nos revela outros universos paralelos vivenciados na experiência direta)? Como é essa parte no caso de vocês?

Nascemos e vivemos boa parte da vida em Belém imersos de alguma forma dentro do caldeirão cultural que abastece o Estado. Vindo de uma região tão bem servida a gente só precisa deixar as tais pitadas aflorarem quando elas quiserem. Não temos compromisso em fazer algo que soe assim, mas se soar a gente deixa e pronto.

Nino - Quais cantoras você considera exemplos de atitude, voz e autenticidade que já nasceram no Brasil e no mundo ?

Bessie Smith, Aretha Franklin, Ella Fitzgerald, Tina Turner, Nina Simone, Angela Gossow, Elis Regina, Bjork, Cassia Eller.

Nino - Como foi o início da história de vocês, aí na capital paraense? A gente aqui não tem uma noção exata da cena no Pará hoje ,exceto alguns festivais recentas que acabam revelando novas bandas do local, mas sete anos atrás, quando vocês surgiram... como foram esses primeiros passos até lançarem a demo “O Tao do Caos” ?

A cena do Pará sempre teve algo de bom acontecendo, em maior ou menor grau. Atualmente, há bastante movimentação com várias bandas, coletivos e festivais. Recentemente aconteceu o Festival Se Rasgum, bastante elogiado. O Circuito Fora do Eixo passou a trabalhar mais efetivamente em Belém através do Coletivo Megafônica e tem o portal BelRock.com.br, que é referência para quem quiser saber mais sobre as bandas e o que acontece no Pará.


Nino - O Tao do título vem do conceito fundamental do Taoísmo de Lao zin? Significa o “caminho do caos”?

Andava relendo um livro do Fritjov Capra que nem era o famoso Tao da Física e novamente estava lá o paralelismo entre o taoismo e a física quântica. As coisas que envolviam naquele momento nossas vidas e aquele primeiro registro eram intensas, coloridas e caóticas, como qualquer nascimento. Um tal de caos, pensei. Tal... Tao... Gostei dessa brincadeira e ficou.

Nino - Isso me leva a crer que há muito mais coisas além da música envolvidas na filosofia da banda. Há uma ligação forte com o conceito de sabedoria ancestral e conhecimento de causa com grandes mestres que plantaram sementes fortes na terra. Quem são as pessoas que você mais admira e que deixaram uma mensagem forte marcada no mundo?

Somos bem diferentes em relação as nossas crenças e espiritualidade e a banda não segue essa ou aquela. Abraçamos todas e nenhuma. As pessoas que mais admiro são as anônimas que fazem alguma coisa de relevante para si e o próximo sejam elas seguidoras de Jesus, Maomé, Mestre Irineu, Osho, Iemanjá ou Allan Kardec.

Nino - O EP lançado em 2004 projetou a banda de forma bastante positiva. Foi apontado pela revista Dynamite como um dos melhores lançamentos de 2005 e obteve um forte reconhecimento na mídia especializada. O que começou a mudar a partir desse momento?

Foi ótimo receber reconhecimento por conta de um trabalho que estava nascendo e isso serviu como mais motivação. De qualquer forma, mesmo se tivessem odiado continuaríamos na estrada.

Nino - A Internet foi usada de maneira muito bem pensada no caso de vocês. O lance de lançar singles simultâneos em mais de 30 sites brasileiros e outras ideias sensacionais... como foi planejar tudo isso ?

O projeto foi idealizado pelo nosso produtor, o Bernie, e ganhou vida com a parceria do Circuito Fora do Eixo auxiliando nessa articulação, tanto que logo surgiu o projeto Compacto.REC para lançar singles virtuais nessa plataforma. A ideia principal era fazer com que a música pudesse chegar aos mais diferentes nichos, mercados e estados. A grande dificuldade foi organizar e fazer com que todos fizessem um trabalho simultâneo e coordenado, mas no final saiu tudo como planejado, foi uma boa experiência e que está sendo muito bem aproveitada pelo circuito.


Nino - Como você acha que a internet pode realmente ser usada a favor de uma banda hoje em dia? Há maneiras que podem deixar uma banda sem sair do lugar, mas ao mesmo tempo existem possibilidades que podem projetar alguém de maneira eficiente. Que dicas você daria para os que hoje buscam serem reconhecidas mas não sabem por onde começar ou começam por caminhos tortuosos que podem não levar a lugar algum?

Buscar reconhecimento é o foco errado para quem está começando. Se vai usar a Internet para divulgar o trabalho, ele tem que estar bom e por isso o foco primário é o som está pronto para estar ali, exposto. Cometemos erros no afã de tentar esse tal “reconhecimento” sem estarmos preparados, e muita coisa sem qualidade foi jogada no cyberespaço. No começo da banda essa coisa de youtube ainda não era o frenesi que era hoje, e não sabíamos como usar essa grande vitrine que é a Internet. Quer ter banda? Ser músico? Ensaie, estude, toque bem, faça muitos shows, crie seus sites, participe de festivais, troque informações, trabalhe muito para investir na banda, se vire; e aí, pense em reconhecimento. Se ele virá, ninguém sabe.

Nino - Me fale sobre um pouco do significado da canção “ Vela”...

Ela fala do sagrado e profano que habita todos nós. Foi inspirada em uma das maiores procissões católicas do mundo que acontece em Belém do Pará, que é o Círio de Nazaré.

Nino - Depois do reconhecimento inevitável conquistado por vocês, chegando a ganhar prêmio de melhor álbum de heavy metal em 2008, a estrada se abriu em definitivo para a banda. O que rolou de mais bacana depois da façanha de sair do Pará em direção a vários outros estados do país, inclusive como atração arasadora em grandes festivais?
O que você considera que de mais bacana rolou nessa jornada, nesse portal que vocês abriram com essa força latente em vocês?

Ficamos felizes com as críticas e manifestações favoráveis do público nas cidades e em festivais por onde passamos. Fomos obrigados a deixar Belém por causa da dificuldade de deslocamento para tocar em outros Estados e participar dos festivais independentes. Era muito caro. Viemos para São Paulo para uma experiência de 3 meses e logo na chegada conseguimos um contrato de endorsement com uma importadora de grandes marcas de equipamentos. Com esse aceno da sorte emendamos uma tour pelo nordeste que era tudo que precisávamos para divulgar o primeiro cd e que foi super positiva. Participamos de programas de TV de circulação nacional, tivemos boas resenhas em mídias especializadas e não tivemos que reclamar até agora. A única coisa que sabemos é que é um recomeço e que temos uma estrada longa para conseguir de fato nosso lugar ao sol.


Nino - Gostaria que você comentasse sobre os clipes da banda que tiveram apoio de gente bem bacana e que conquistaram espaços bem legais na mídia...

Conhecemos muita gente talentosa e essas pessoas nos deram a imensa felicidade de trabalhar com elas. Um delas é Priscilla Brasil, uma jovem cineasta paraense adoradora de sons e emoções fortes. Ela fez nossos dois clipes que circularam em algumas TVs e que tiveram boa exposição (“Vela” e “Devorados”). Os dois foram feitos a custo zero e apenas com a força do trabalho de outras pessoas, que igualmente nossa querida diretora. São profissionais de mão cheia.

Nino - Qual a sensação de ver o trabalho da banda saindo bem na foto nos meios de comunicação mais importantes do Brasil, ao mesmo tempo em que o Brasil anda um tanto fechado para ceder espaço em âmbito geral ao rock, como nas décadas de 80 e 90?

Sensação boa, mas lidamos com a realidade e com ela não dá pra ficar parado. Já estou pensando na frente e lá eu quero estar com um novo cd e tocando muito. Não fico pensando em como o mercado esta assim ou assado para sons como o nosso senão paraliso. Sei que há público para ele e que estou feliz construindo o que eu espero ser uma carreira digna.

Nino - Como é hoje o dia a dia de vocês? A banda ainda reside no Pará ou fixou-se no centro das coisas, que é São Paulo? Dá para sobreviver somente do que a banda consegue na batalha que vocês levam em nome da música?

Este ano participamos de projetos muito legais, como o Conexão Vivo, onde ficamos em primeiro lugar entre bandas do Brasil todo, e isso rendeu um novo vídeo clip que sai, eu espero, no primeiro semestre do ano que vem. Circulamos pouco em relação ao ano passado e esse foi dedicado a projetos para o segundo disco e ensaios de material novo. Cada um da banda conta com outras fontes de renda que equilibra as contas quando os cachês rareiam.

Nino - Quais os discos você acha mais importantes para a historia do rock e que essa nova geração deveria ouvir ?

O básico do básico:

AC/DC – Back in Black
Novos Baianos – Acabou Chorare
Led Zeppellin – Led Zeppelin IV
Slayer – Season in The Abyss
Pantera – Vulgar Display of Power
Beatles – Abbey Road
Black Sabbath – Paranoid
Iron Maiden – Killers
The Stooges – Raw Power
Metallica – Kill'em All
Titãs – Cabeça Dinossauro
Mutantes – Os Mutantes
Sepultura – Roots

Nino - Das bandas nacionais, o que vocês têm considerado mais relevantes atualmente?

Macaco Bong, Torture Squad, Los Porongas, Johny Rockstar, Delinquentes, Eminence, Renegado, Dead Fish, Pio Lobato, Curumim, Nação Zumbi.


Nino - E para finalizar, uma pergunta que sempre faço: se vocês pudessem voltar no tempo ou avançar, ou mesmo redirecionar o presente, a qualquer lugar do mundo iriam? E se pudessem escolher 5 bandas pra dividir o palco com vocês, quais seriam elas?

Haha... resposta difícil. Impossível dizer apenas 5 já que gostamos bastante de uma “promiscuidade musical”. Diria toda a lista das bandas dos discos essenciais, as cantoras que acho o máximo e mais as bandas nacionais citadas acima. Pode? Beijo!!
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Créditos : fotografia de rosto por Alan Lemos
Fotografia da banda por Renato Reis
Revisão de texto por Eric Marat
link : http://www.myspace.com/madamesaatan

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