segunda-feira, 9 de novembro de 2009

CRACKER BLUES -ENTRE O MEXICO E O INFERNO




A banda paulistana Cracker Blues nasceu da paixão pelo rock sulista americano e pelas raízes do blues e os mestres do blues rock ,passaram um longo período executando clássicos eternizados pelo passado até que as composições próprias foram vindo a tona ao longo do caminho ,a qualidade é indiscutível nas canções do primeiro álbum recém lançado e batizado “Entre o México e o inferno” ,melodias arrasadoras , letras inspiradíssimas e autenticas de quem vive das ruas nas noites entre bares enfumaçados e etílicos caindo pelas madrugadas em busca de mais daquilo que os alimenta,a diversão dos grandes boêmios como um dia foi Adoniram Barbosa entre os cantos escuros da capital paulista em sambas que muito bem poderiam ser grandes clássicos do rock como o Cracker hoje faz, grandes pérolas que narram contos verídicos ,que relatam perdições e preces embaladas a um rock’n’roll de grande estilo ,levei um papo com o vocal ,gente finíssima e agora grande brother Paulo Coruja ,o show de lançamento oficial do álbum rola ainda esse mês ,mais informações dentro de alguns dias aqui no blog ,vamos lá grande Paulo,vamos pedir logo essa cerveja gelada e dar inicio ao nosso bate papo.



Nino-Finalmente depois de quase 10 anos de estrada a Cracker Blues chega a seu primeiro disco ,um momento muito especial para banda ,como vocês estão se sentindo com a chegada deste primeiro filho ?
Paulo Coruja -Rapaz, deu muito trabalho e custou muito sangue, além de várias mudanças na formação durante a longa estrada, mas estamos muito felizes...o disco ficou melhor do que a gente esperava, e passa bem tudo o que a gente queria dizer, o estilo de vida Cracker Blues.

Nino- a banda existe desde 2000 ,começaram como uma banda cover de clássicos de blues ,blues rock e southern rock altamente respeitada , como foi a transição dessa fase para um trabalho autoral?
Nós começamos despretensiosamente, só pra tocar as músicas das quais gostávamos...aí foram aparecendo oportunidades pra shows, e fomos seguindo. Em determinado momento, começamos a fazer versões das músicas que tocávamos diferentes das originais, a dando uma cara própria pra alguns materiais. Aí, quando vimos que tínhamos uma identidade, um estilo de som característico, resolvemos investir, e fazer músicas próprias. Quando vimos que o negócio fluía, gravamos.
Nino- Entre o México e o inferno traz um caldeirão de influencias marcantes,quais as bandas que ao ver de vocês estão mais impregnadas na essência do álbum?
Tem muitas, mas vamos lá: Allman Brothers, ZZ Top, Lynyrd Skynyrd, Blackfoot (esse nós só percebemos depois, hehehe), Robert Johnson, Gov’t Mule, Son House, Eric Sardinas, John Lee Hooker...
Nino- As letras são um show a parte, de onde vocês tiram essa inspiração tão original , como funcionou esse trabalho de composição no disco?
A banda toda tem histórias pra contar, e também ouvimos muita coisa de amigos na noite...muitas coisas das quais falamos realmente aconteceram, então foi só transformar isso uma maneira que pudesse integrar o arranjo. Pesquisei muito Tom Waits, e letras de sambistas brasileiros da antiga, como Noel Rosa e Riachão. Aí, eu mesmo escrevi as letras, sempre com as sugestões dos demais membros da banda, como a Larissa e o Marceleza, e com as frases que captávamos por aí nos botecos...

Nino – E quanto a produção do Edu Gomes ,essa figuraça altamente talentosa da musica nacional ,falem um pouco para a gente sobre essa parceria?
O Edu tinha participado de um projeto nosso, o “Cracker Blues Convida”, aí, nos conhecemos melhor, e o convidamos pra fazer a produção do disco, área na qual não tínhamos experiência. O homem entendeu perfeitamente o que a gente queria, e ajudou a organizar nossa idéias de uma forma coesa, pra dar unidade ao trabalho, sem perder as características da banda nos shows. Chegávamos com um arranjo pronto, aí ele ajudava a podar alguns excessos, e acrescentar passagens pra enriquecer, além de trabalhar os timbres com precisão. É um grande talento, e esperamos contar com ele nos próximos!

Nino- Tocando no assunto das bandas de rock no Brasil atualmente como vocês encaram o fato de sobreviver com a musica em um mercado que se fechou bastante de uns tempos para cá ,principalmente levando em consideração o fato de agora terem um trabalho próprio?
O trabalho próprio te traz um respeito diferente no meio, é como uma identidade, que te credencia a vôos mais altos. Passam a saber o que você tem a dizer. A internet facilitou a divulgação das bandas, hoje qualquer um pode ouvir seu trabalho, mas também dispersou bastante o público. As gravadoras que ainda tem cacife pra lançar bandas estão concentradas em mainstream, as independentes não conseguem se segurar bem, então agora a própria banda tem de correr atrás, e oferecer um diferencial pro público. Não basta fazer música boa, agora temos de ter uma atitude, e saber levar essa atitude ao público, em todas as formas possíveis. O cara deve se identificar com o estilo da banda, mais do que curtir o som, deve ser parte da tua família...é assim que nós sobrevivemos na selva, contando com nossa família Cracker Blues, e caçando as oportunidades....aliás, obrigado por esta oportunidade!!!.

Nino- São Paulo tem gerado muitas boas bandas de rock resgatando fortemente essa veia rock’n’roll vibrante ,tirando bandas como a Tomada e a Baranga que já estão se sobressaindo na mídia e inclusive já dividiram o palco com voces, quais bandas vocês podem citar como nomes fortes dessa nova cena paulista?
Cara, tem muita coisa boa, só que tudo anda meio fechado, sempre o mesmo palco, nos mesmos lugares...posso citar, com trabalho próprio, além destas o Carro Bomba, Pedra, Daniel Kid e os Rockers, muita coisa! Apesar de não ser paulistana, cito o Bando do Velho Jack, do Mato Grosso do Sul, uma de minhas bandas favoritas, junto das anteriores! Um dos meus sonhos é rolar um festival de verdade, grande e bem feito, pra botar esses caras todos no mesmo palco e fazer o barulho que eles merecem.
Nino- Voces falam em influencias de citações da noite paulistana nas composições do disco ,falem-nos um pouco sobre isso?
Quando você convive com a noite paulistana (fora dos lugares da moda, claro), você ouve histórias e convive com figuras lendárias...além, é claro, de vivenciar situações que não são exatamente normais. Sim, numa letra falamos do gerente de uma casa, digamos, de “relaxamento muscular masculino”(citação do Marceleza), e realmente um familiar próximo meu foi gerente de uma. O whisky Made In Asunción, o bom dia do saco de pão, todos nós passamos por isto....o amigo que tatuou o nome da namorada (alguns tatuaram o rosto delas), e as piadas que surgiram disto, a ressaca de segunda. Falamos da realidade que nos cerca, e quem ouve a Cracker compartilha do que falamos, hehe!

Nino- Quais os planos da banda a partir do show oficial de lançamento do disco , que pelo jeito vai ser uma grande celebração...
Esperemos que seja um grande show, e que a família Cracker envergue com orgulho seus chapéus e botas, afinal de contas vamos invadir o Bourbon Street !
Estamos trabalhando no nosso clipe de Velha Tatuagem, que deve sair depois do carnaval, e pretendemos tocar até sangrar os dedos, além de compor mais, pra já preparar o segundo disco!

Nino- Vocês sempre se dedicaram exclusivamente a Cracker ou durante essa década de estrada também participaram de outros projetos?
Antes da Cracker, todos tivemos muitos...agora, às vezes participamos de outros projetos como instrumentistas, por exemplo, o Marceleza faz guitarra em alguns, eu gravo algumas gaitas pra outros. O Gaucho tem outra banda, a Garagem Hermética, excelente, por sinal, que está voltando à ativa. A Larissa eventualmente participa de outras como convidada, e assim seguimos. A Cracker toma bastante tempo.

Nino- Quais discos para o pessoal da Cracker blues são obras sagradas que a geração de agora não deveria deixar de ouvir ?
Meu rapaz....essa pega! Tudo do Allman, do Hendrix, do ZZ Top, do Lynyrd, do Stevie Ray Vaughan, do Robert Johnson, do Gov’t Mule...tá....pensando em álbuns: Allman: At Fillmore East, Lynyrd: Pronounced 'lêh-'nêrd 'skin-'nérd, Robert Johnson : Complete Recordings, ZZ Top: Tres Hombres, Eric Sardinas: Treat Me Right, Dave Hole: Whole Lotta Blues, Johnny Winter: Second Winter, Scott Henderson: Dog Party, Stevie Ray Vaughan: Live at El Mocambo, Willie Dixon: Boss of the Chicago Blues, George Thorogood: Anthology, Hound Dog Taylor: Release the Hound, The John Butler Trio: Grand National, John Mooney: Dealing With The Devil, Koko Taylor: Koko Taylor e Friends, Motörhead: March or Die, Casa das Máquinas: Casa do Rock, Tutti Frutti: Fruto Proibido, tem um monte…

Nino- Na Markadiabo a gente tem uma caracteristica um tanto antropólogica de colocar na roda bandas q não atingiram o devido reconhecimento mas que consideramos pérolas sonoras quais bandas que não atingiram o mainstream vocês consideram mais legais ?
Acho que o Eric Sardinas tem bastante a dizer, na linha Johnny Winter. O Gov’t Mule não tem o reconhecimento que merece, é uma das maiores bandas do nosso tempo...tem o North Mississipi All Stars, o Delta Moon, The Blasters, Molly Hatchet, Blackfoot...
Nino- Ainda vai rolar algum cover nos shows ?
Sim, ainda fazemos alguns. Pensamos no Gov’t Mule: quando eles fazem covers, e eles fazem bastante, sempre soa Gov’t Mule...é isso o que queremos fazer, covers com cara Cracker Blues.

Nino- Qual musica mais rolava um feed back ,um frenesi quando ainda eram uma banda tocando clássicos das antigas?
O pessoal gostava da Voodoo Chile (Hendrix), da My Head is in Mississipi (ZZ Top), da Minha Vida é o Rock’n Roll (Made in Brazil), da Midnight Rider (Allman Brothers) mas agora os hits são as próprias.

Nino- E no trabalho atual,quais musicas mais tem despertado a euforia do publico ou das pessoas que já tem acesso ao disco?
Velha Tatuagem, com certeza a mais “cantada” pelo público, Whisky Cabrón (a mais porrada), Blues do Inimigo (a preferida de muitos no disco, depois da Velha) e Bolero Maldito (o country sanguinário, hehehe).

Nino- Se a banda pudesse voltar no tempo e ser escalada pra participar de um festival com cinco bandas ,quais seriam as outras quatro?
C..., essa é perigosa. ZZ Top, com certeza, Allman Brothers, Lynyrd Skynyrd, Blackfoot e Charlie Daniels Band. Mas eu só assistiria, hehehe...essa é a minha preferência, os demais Crackers podem ter outras.

Nino- Quais bandas de blues no Brasil vocês consideram mais relevantes ?
De blues, acho que o Blues Etílicos, o Celso Blues Boy, o André Christovan, o Irmandade do Blues, Blue Jeans e Big Alambik. Essas são as que tem mais história. Mas tem muita coisa boa, além delas...e bandas que não são de blues, mas tiveram relevância em algumas músicas no estilo, como o Cazuza.

Nino- Como é viver a banda de maneira independente no Brasil ,o cara consegue sobreviver só com seu próprio trabalho como musico,como é o dia a dia de voces?
A Cracker se paga sem problemas, mas ainda não podemos depender apenas dela para viver, esperemos isso pra breve. Trabalhamos com outras coisas, também, e ensaiamos semanalmente, fora os shows.

A Cracker Blues agradece muito ao Nino e à Marka Diabo pela oportunidade , pela força que eles dão às bandas nacionais, e pelo estilo das camisetas, que achamos do c...!! Convidamos todos aos nossos shows, e quando estiverem lá, usem com orgulho seus chapéus, botas e camisetas Marka Diabo, que eles são dos poucos que vivenciam o Rock’n Roll nessa selva!!!
Grande abraço!!


obs: Hoje a banda já prepara-se para compor o novo albúm e o mestre Paulo Coruja é integrante oficial da equipe da Marka Diabo, como nosso principal desenhista.

1 comentários:

Grande Nino!!! Muito obrigado de novo pela oportunidade, foi sem dúvida uma das melhores entrevistas que já fiz (a pergunta da Volta no Tempo foi muito bem pensada!).
Grande abraço a todos da Marka, e esperamos vocês nos nossos shows!

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