sexta-feira, 8 de abril de 2011

O TELEFONE - CONTOS DE NINO LEE

São quase nove da manhã e o telefone ainda não tocou, quando eu chego no trampo é de lei pegar um café preto no boteco do Esmeraldo e sentar na mesa do fone atendendo as ligações antes de cair em minhas funções. Mas essa porra do telefone ainda não tocou hoje. Será que tá com defeito?, difícil. Ou quem sabe hoje não seja o dia em que a terra parou? Difícil.
Porém isso me fez pensar em algo, e pensar é algo que eu tenho feito muito por aqui,nessa época “changes” da minha vida, se fosse pra esse telefone tocar, quem eu gostaria que ligasse pra mim, numa manhã pálida como essa?
Alguém que me ligasse e de repente mudasse tudo ao meu redor depois da dita ligação. Algo que transformasse o resto do meu dia numa incerteza cruel de que aquela ligação fora real ou não e no que isso poderia mudar, ou não, a minha vida.
Me veio a tona pensar primeiro em quais ligações eu recebi e que foram
verdadeiramente impactantes na minha vida. (noticias tristes não contam) alguma ligação que conteve palavras que mudaram alguma coisa no meu mundo.
Uma delas acho que não dá pra esquecer e foi algo que além de virar a minha vida de cabeça pra baixo ainda levou junto cinco amigos meus na enxurrada do impacto que ela causou.
Eu me lembro bem, como se fosse hoje, embora tenha sido há muito tempo atrás, sentado na mesa da loja onde eu trabalhava lá nos primeiros anos da década de noventa (do Nirvana, Soundgarden, Alice in chains e outras coisitas mais), quando o bendito telefone tocou e era pra mim, as primeiras palavras do outro lado da linha foram: E AÍ,VELHINHO? (o restante daquele papo já rendeu seis discos e muita ,mas muita historia pra contar) não era o Pernalonga na linha, era o “gordo” Carlos Eduardo Miranda, um cara que na época era o olho do furacão do rock brasileiro, a imponência da imponência em termos de figura respeitada no cenário independente artístico nacional e ele tinha acabado de dizer que nós (se aqui ninguém ta ligado, tínhamos uma banda chamada Maria do Relento e tocávamos a zueira pelo nosso estado naquela época, nosso material estava nas mãos dele,assim como o de 99% das bandas nacionais que sonhavam com um disco e a tal “fama”) estávamos oficialmente contratados pelo seu selo ligado diretamente a uma das maiores multinacionais do país, uma historia liderada por ele e os Titãs, o mesmo selo que bem pouco tempo antes tinha revirado a cabeça da gurizada com uma banda chamada RAIMUNDOS.
Aquilo era, e ainda é, o sonho de qualquer banda que se preze. Aquela ligação me deixou atônito, sem palavras, incapaz de avaliar a grandiosidade daquilo que eu tinha acabado de ouvir.
Depois daquela ligação as nossas vidas nunca mais foram as mesmas.
Nossa história com o Miranda não durou tanto, uns dois anos e pouco de convivencia e aprendizado mas foi suficiente pra nos levar longe, longe demais do lugar onde estávamos, lugar esse, que talvez nem tivéssemos conseguido chegar se não fosse pelo telefone ter tocado aquele dia...
Mas afinal, quem eu gostaria que, agora, nesse exato instante fizesse esse maldito telefone tocar numa ligação feita pra mim, em pessoa?Acho que a resposta nesse caso é bem fácil de saber, é lógico que só poderia ser o OZZY, imagina se o OZZY me ligasse gaguejando e balbuciando uma coisa qualquer mesmo que eu não entendesse patavina nenhuma, ou talvez o Lemmy grunhindo algo do tipo "rhoar, rhoar, rhoar, you wanna be my roadie, rhoar?
Isso já valeria pelo resto da minha existência, nessa xarope manhã de segunda feira.
E você ,quem gostaria que te ligasse, por mais surreal que pudesse ser o seu desejo?
Mas a merda é que o outro telefone, nesse caso, o meu celular, não toca quase nunca e quando toca é sempre alguém do escritório me pedindo pra fazer alguma coisa pra eles.
Se fosse pra escolher uma ligação mais real, eu escolheria a de um sujeito qualquer que me ligasse dizendo que esse conto ta bacana , que as idéias aqui do blog estão legais... mas enquanto essa ligação não vem...o negócio é ficar esperando essa porra de telefone tocar.
Alguns segundos de silêncio na minha cabeça e de repente a porra do telefone toca...não era o Miranda, nem um sujeito qualquer conectado nas minhas ideias, nem muito menos o OZZY...era o chato do seu Genovencio, perguntando se a porra do documento do carro dele tava pronto, dali pra frente o fone não parou mais de tocar, e a merda é que nenhum era pra mim.

Obs: Esse conto ridiculo foi escrito quando me auto exilei em Tubarão Santa Catarina após colocar um ponto final na minha historia com a Maria do Relento por motivos de doideira mesmo, incapacidade de lidar com tanta rotatividade e as consequencias daquilo tudo após as turnes dos tres albuns que gravei com eles ,dá pra perceber que fui parar num escritorio que lidava com documentações ,foi uma diferença e tanto,mas salvou minha sanidade e recomeçou minha vida .

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